Buscando o Ki
O Ki é o material mais básico e também o mais complexo para o
acupunturista compreender. De natureza dinâmica e fugidia, é considerado a essência
do trabalho energético.
Quando falamos de Ki, alguns pensam que se trata de algo etéreo ou conceitual no discurso da medicina tradicional oriental; outros, que se trata de algo físico, que necessita um grande estímulo para solicitar sua presença e função. Nada mais distante da realidade. É preciso entender o Ki como uma força sutil e delicada, implícita no conceito de vida, e que, em seu comportamento natural, se manifesta de diferentes maneiras. Com relativa facilidade, podemos ter acesso a algumas destas manifestações, como a constatação da remissão de sinais e sintomas ou a observação do brilho dos olhos. O acesso a manifestações que forneçam informações mais valiosas, como o pulso ou a palpação de meridianos, estará reservado ao profissional, já que requer estudo, prática e experiência. Sendo isto evidente, deve-se ressaltar que é comum o erro, entre muitos praticantes, de entender o Ki como um conceito intelectual. E o Ki, assim como a vida, se deve sentir e viver.
Quando falamos de Ki, alguns pensam que se trata de algo etéreo ou conceitual no discurso da medicina tradicional oriental; outros, que se trata de algo físico, que necessita um grande estímulo para solicitar sua presença e função. Nada mais distante da realidade. É preciso entender o Ki como uma força sutil e delicada, implícita no conceito de vida, e que, em seu comportamento natural, se manifesta de diferentes maneiras. Com relativa facilidade, podemos ter acesso a algumas destas manifestações, como a constatação da remissão de sinais e sintomas ou a observação do brilho dos olhos. O acesso a manifestações que forneçam informações mais valiosas, como o pulso ou a palpação de meridianos, estará reservado ao profissional, já que requer estudo, prática e experiência. Sendo isto evidente, deve-se ressaltar que é comum o erro, entre muitos praticantes, de entender o Ki como um conceito intelectual. E o Ki, assim como a vida, se deve sentir e viver.
Uma das contribuições mais notáveis para a medicina oriental provém da
concepção japonesa. É o fato de que o Ki requer uma grande sutileza para ser
manipulado e percebido. Em outras palavras, não requer estímulos de grande intensidade
física como a eletroestimulação ou a punção profunda para conseguir sua ativação.
Quando o estímulo utilizado é sensitivo, ou seja, captado pelo sistema nervoso,
significa que ultrapassamos o limiar de sutileza para ativar outros mecanismos
de natureza física ou bioquímica (4). Não deixa de estar certo, que mediante
estímulos sensitivos intensos, também se produzem efeitos benéficos e talvez
uma ativação do Ki, ainda que em menor quantidade. Um paralelismo que explica esta
realidade é a circulação de água em uma mangueira de jardim: se pressionamos
suavemente (estímulo sutil), a mangueira aumentará suavemente a pressão de
saída de água, se apertamos mais forte (estímulo sensitivo) a água saíra com
muita pressão e se chegamos a aplicar uma pressão muito grande (estímulo
sensitivo intenso) o fluxo será bloqueado e não saíra água. Em poucas palavras:
menos é melhor.
Manipulando o Ki
Uma técnica de moxibustão que
expressa perfeitamente a sutileza do estímulo e a essência do Ki, é o chamado chinetsukyu
. Este tipo de moxibustão é considerado moxibustão indireta, ainda que se
aplique diretamente sobre a pele. O fato é que sua combustão jamais deve chegar
à pele do paciente. Esta técnica foi desenvolvida pelo japonês Keiri Inoue, um
dos fundadores da Keiraku Chiryo (Terapia de Meridianos), com a intenção de
conseguir uma técnica de suplementação suave. No nível energético, chinetsukyu permite
estimular e suplementar o Yang Ki, mobilizar o Ki, desobstruir meridianos,
liberar o Yang, drenar líquidos e dispersar estagnações. É interessante
destacar a possibilidade de conseguir um efeito de drenagem-dispersão e sua
aplicação em quadros de calor, já que é comum a idéia de que a moxa, por ser
quente, não pode ser utilizada para tratar o calor (2).
Chinetsukyu consiste em cones de
Artemísia com uma dimensão aproximada de 1,5 cm de base (koyubi kashira dai, ou
seja, a primeira parte do dedo mínimo) e 1,5-2 cm de altura. Os cones são
confeccionados manualmente e com Artemísia de qualidade média, para que sua
combustão seja lenta e quente. As artemísias de media ou baixa qualidade costumam
conter uma proporção de folhas e ramos mais abundante, que resulta numa
combustão mais calorífica que a das artemísias de alta qualidade, as quais são
usadas para técnicas diretas como o okyu.
Esta técnica possui dois grandes
efeitos opostos: a suplementação e a drenagem. De acordo com a maneira como se
deixa progredir a queima do cone, podemos obter um ou outro efeito (1).
Mediante sua aplicação por passos, podemos compreender bem a técnica:
1. Localizar e marcar o ponto de aplicação.
2. Confeccionar e aplicar o cone no ponto localizado.
3. Acender o cone com um incenso.
a . Efeito Suplementação:
deixamos seguir a combustão até o final do primeiro-segundo terço ou 50% do
cone. Outra forma é deixar queimar até que o paciente comece a sentir
suavemente o calor, então retiramos o cone.
b . Efeito Drenagem: deixamos
seguir a combustão até o final do terceiro terço ou 90% do cone. Também podemos
esperar até que o paciente expresse que sente realmente quente (queimando),
porém sem deixar que chegue à combustão completa. Chegando a este ponto,
retira-se imediatamente o cone.
Vale ressaltar que a retirada do
cone pode ser feita manualmente sem problemas, já que o cone queima de cima
para baixo e de fora para dentro. À medida que segue a combustão, ficará um
cone de cinza de pouca densidade que pode ser retirado com manipulação rápida e
delicada.
A verificação do pulso permite
objetivar os efeitos resultantes da técnica, ao mesmo tempo em que permite
observar a mudança do Ki cada vez que o cone suplementa com mais Ki.
Alguns tratamentos com
chinetsukyu:
- Estimular o Yang Ki: 3 cones no
modo Suplementação em VG14.
- Estimular a saúde e crescimento
nas crianças: 3 cones em Suplementação em VG12.
- Baixar a febre: 9-11 cones em
Drenagem em VG14.
- Dor na região cervical e tensão
em trapézios: 1-3 cones em drenagem em B10 e VB20.
- Diarréia: 3-5 cones em
Suplementação em quatro pontos ao redor do umbigo.
- Dor e congestão na cabeça: 3-5
cones em Suplementação em R1.
Sentindo o Ki
Não é fácil sentir algo, se não
sabemos antecipadamente o que se deve sentir. Esta costuma ser a idéia que
corre a mente do praticante quando inicia esta difícil tarefa. Mas para seu
consolo, deve-se dizer que, uma vez que o sinta, não terá dúvidas.
O que nos permite sentir o Ki dos
outros é colocar uma série de circunstâncias para a circulação de nosso próprio
Ki. A interação entre o nosso Ki e do paciente é a chave deste mistério. Estas
são algumas circunstâncias que podem facilitar:
· A atitude mental: esperar e não
condicionar, já que o Ki vai chegar. Somente deve-se dispor de uma atitude de contemplação
mental, uma vez que somente o fato de pensar na forma já causará captação do Ki
(calor, cócegas, cólicas, dor, etc.); a intenção antecipada de manipular o Ki irá
bloquear sua captação.
A postura corporal: a comodidade
na postura e a atitude de evitar as tensões permitem não criar obstáculos para
um correto fluxo de nosso Ki.
· A respiração: a calma e a
freqüência respiratória suave facilitam o impulso e a circulação de nosso Ki.
Deve-se evitar a apneia respiratória.
· O ambiente: um espaço tranquilo
evitará a interação incontrolada com outros estímulos (ruídos, mau cheiro ou
cores fortes).
Sobre a atitude e as
circunstâncias ideais, os livros clássicos são claros. O Ling Shu, no capítulo
9, diz: “Quando se insere a agulha, não se deve olhar, não se deve escutar, não
se deve falar e não se deve mover, porém deve-se centrar a atenção, dirigir a
mente para a ponta da agulha e esperar a ida e vinda do Ki”.(3)
Em relação ao chinetsukyu, quando
queremos entender a qualidade do nosso tratamento ou controlar exatamente a
quantidade de Ki que estamos fornecendo, devemos adicionar uma ferramenta de
monitorização. Colocaremos os dedos índice e polegar a modo de Oshide “aberto”,
ou seja, descansaremos muito suavemente as pontas destes dedos a 1,5 cm do cone
em combustão. Deverão ser controlados aspectos como a força aplicada sobre a
pele e que os dedos não dificultem a passagem do Ki no caso de aplicarmos
chinetsukyu em um trajeto de meridiano. O Ki chegará em uma apresentação
radial, como se fosse uma pedra lançada na água, e periódica à medida que siga
a combustão do cone.
Podemos observar a extrema
sutileza do Ki ao sentir sua chegada e suplementação através do cone muito
antes que o paciente perceba qualquer sensação física de calor.
Saúde e okyu!
Bibliografia:
(1) Birch, S (1998). Japanese Acupuncture. Paradigm Publications.
Massachusetts, USA.
(2) Caudet, F (2011). El calor que cura. Natural Ediciones. Madrid,
España.
(3) Kuwahara, K (2003) Traditional Japanese Acupuncture.
Complementary Medicine Press. Taos,
New Mexico.
(4) Manaka,
Y (1995) Chasing the Dragon’s Tail. Paradigm Publications. Massachusetts, USA.
(5) Revista Medicina Chinesa Brasil, Ano II, número 6.
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