quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Quando o Estresse é demais


NÃO DEIXE QUE ESTE ESTADO EMOCIONAL SE TRANSFORME NUMA DOENÇA CRÔNICA


Você conhece bem a sensação.

Por culpa do trânsito chega atrasada ao trabalho e quando finalmente entra no escritório as tarefas de caráter urgente amontoam-se.

Como se não bastasse, o seu chefe está de mau humor e quando regressa a casa ainda discute com o seu marido.

Quando estamos stressados, o hipotálamo, um minúsculo circuito presente na base do cérebro liberta glucocorticoides, uma hormona que coloca o organismo em estado de alerta. A pressão sanguínea e os batimentos cardíacos aumentam, os níveis de açúcar no sangue elevam-se, os músculos contraem-se. Tudo isto para que, se um leão correr atrás de si, você tenha a energia necessária para fugir.
Os efeitos secundários

No entanto, hoje em dia, o risco de termos um animal feroz a correr atrás de nós é mínimo e, contudo, os níveis de stress são elevados e quase permanentes. Produzimos demasiados glucocorticoides em resposta às preocupações do dia a dia que acabam por se acumular na corrente sanguínea e provocar danos. A hormona torna-se tóxica tanto biologicamente, ao destruir neurónios e enfraquecer o sistema imunitário, como socialmente, quando  continuamos a discutir com os amigos ou com a família, horas depois da causa original da tensão ter desaparecido.

A vacina promissora

Após 30 anos de investigação Robert Sapolsky, professor de neurociência na Universidade de Stanford (Califórnia), desenvolveu um vírus capaz de neutralizar a hormona do stress. O vírus já provou ser um sucesso em ratos e o investigador acredita estar no caminho certo  para o desenvolvimento de uma vacina antisstress. 

Uma única injeção que terá a capacidade  de criar um estado de calma permanente, mas que não irá forçosamente mudar a forma  como vivemos. Poderá até fazer com que exijam cada vez mais de nós. Mas não stresse. A vacina é ainda uma miragem e já existem vários métodos testados que a podem ajudar a  manter a calma.

O que o stressa?

Perguntámos aos nossos seguidores no Facebook aquilo que os stressa. As respostas concentram-se em dois principais agentes. 

A falta de tempo (ou excesso de trabalho) e os outros, isto é, pessoas mal-educadas ou desagradáveis.

Quanto às estratégias que utilizam para combater a tensão, as respostas são menos consensuais, mas têm um denominador comum. 

Tanto os que se focam em algo positivo como os que procuram formas de relaxar, passando pelos que sorriem mais, preparam uma chávena de chá, são adeptos da caminhada ou do ginásio, nenhum deles está realmente a eliminar o stress.

Um problema geral

Robert Epstein, psicólogo formado pela universidade de Harvard e investigador na área do  stress há quase 20 anos, chegou à mesma conclusão, através do seu teste. «A maioria das pessoas nunca aprendeu métodos básicos e construtivos de gerir o stress. No meu teste a média é de 55 por cento. Se fosse um exame académico, o resultado era negativo». Mas o próprio Robert Epstein esteve enganado.

Ele definiu quatro técnicas, prevenir e planear; relaxar; gerir os pensamentos e as fontes de stress. «Sempre pensei que ensinar as pessoas a relaxar e a gerir os seus pensamentos eram as técnicas mais importantes, mas o meu último estudo demonstra que a maneira mais eficaz de gerir o stress é planear o dia e a vida de maneira a que nunca tenha de encará-lo. Isto é, escolher caminhos livres de stress», refere o especialista.

O trânsito e os outros

Se o seu problema de stress começa logo que entra no carro siga os conselhos de Robert Epstein.

«Prevenir as fontes de stress antes que elas surjam é fundamental. Pequenas  mudanças de horário podem eliminar o trânsito do seu caminho», refere o especialista.

Usar meios de transporte ou caminhos diferentes são também alternativas a considerar.

Por outro lado, se acha que anda a sofrer com o nervosismo alheio, saiba que o stress é mesmo contagioso. Pode ser transmitido, quer por um desconhecido quer por familiares ou amigos ansiosos «porque o bem-estar deles tende a relacionar-se com o nosso, ou porque exigem que nos preocupemos como eles», diz Vítor Rodrigues, psicólogo clínico.

«É importante manter um senso de quem somos, do que queremos e não queremos, da  nossa dignidade e conservarmos uma certa firmeza interior e estabilidade emocional, que se cultivam com autoconhecimento e técnicas de relaxamento», refere o psicólogo.

Aprenda a descontrair

Entre as melhores estratégias para combater o stress, Vítor Rodrigues refere desde as mais simples. «Dar mais tempo a si mesma, estar com amigos e passear no campo». «Fazer desporto, praticar yoga, tai-chi, artes marciais, reiki», são outras estratégias que podem ajudar. No seu  consultório, o psicólogo divide o tratamento em duas vertentes. «Compreender as causas profundas de uma eventual fragilidade face ao stress, através da psicoterapia, e fornecer ao paciente ferramentas que possa usar e que incluem exercícios respiratórios, técnicas de  relaxamento e autohipnose, meditação guiada e imaginação ativa», explica.

Falta de tempo ou excesso de trabalho?

Se não tem tempo para fazer tudo aquilo a que se propôs e isso começa a causar-lhe angústia pare e pense. Será que o tempo é pouco ou o trabalho é muito? Como os dias têm invariavelmente 24 horas concentre-se no que pode mudar. «Planear o dia é de longe a ferramenta mais importante para evitar o stress. Quando isso não é suficiente, a segunda estratégia mais poderosa implica delegar tarefas, organizar o espaço e definir um horário  concreto para a execução das tarefas», sugere o psicólogo. 
Conheça os principais sintomas do stress crónico:

Sintomas físicos:

- Dor (de cabeça, costas)
- Tensão muscular
- Perturbações gastrointestinais (diarreia, obstipação, cólicas e gases)
- Distúrbios do sono
- Asma e falta de ar
- Sistema imunitário deficiente (gripes, constipações e infeções frequentes)

A esses acrescem:

- Fadiga
- Aumento de colesterol e/ou tensão arterial
- Pulsação cardíaca e/ou respiração acelerada

Sintomas emocionais/comportamentais:

- Perda de entusiasmo
- Depressão ou tristeza
- Irritabilidade
- Maior propensão para crises de pânico
- Cinismo
- Falta de memória ou concentração
- Tendência para fumar, consumir álcool ou drogas
- Perda de interesse sexual
- Discurso empobrecido ou mais «enrolado»
- Tendência para não cuidar de si


Texto: Vanda Oliveira com Robert Epstein (psicólogo e investigador) e Vítor Rodrigues (psicólogo clínico)

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