A depressão, em suas diversas formas, segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), é doença que acomete aproximadamente 3% da população mundial por ano. A
tendência ao aumento das cifras vem sendo observada uma vez que mesmo com o
aumento do conhecimento sobre o tema também aumenta. Características de vida
atual têm contribuído para a ocorrência desse aumento, dado que o estilo de vida vem
se caracterizando por estresse, automação e concomitantemente ocorrendo certa
despersonalização da vida relacionada ao trabalho e a mudanças de valores induzindo
a certa inadaptação às contingências do meio.
Destarte, as queixas que levam o paciente à procura de serviços de assistência médica
podem ser múltiplas, e quando nada é encontrado que possa sugerir uma patologia
orgânica, deve-se sempre excluir quadros de ansiedade, onde o estresse vivencial se
manifesta por queixas somáticas, ou mesmo um transtorno depressivo.
Clínicos gerais, bem como outros profissionais de saúde, atendem a uma gama muito
grande de queixas de pacientes, desde aqueles que precisam de consulta de rotina
àqueles com doenças crônicas, incapacidades e deficiências. Conhece-se os sintomas
tradicionais da ansiedade e depressão – choro, fadiga, desesperança – mas não são
todos os pacientes que os tem ou relatam desta forma, seja para os familiares ou
profissionais de saúde. Ainda, alguns sintomas como a fadiga, pode ser um sintoma de
depressão ou doença cardíaca, então se torna difícil o isolamento dos sintomas para o
diagnóstico psicopatológico correto.
De acordo com estudo de Wu, Parkerson Jr. e Doraiswamy, quando os pacientes
relatam ter saúde frágil e com queixas de intensa dor têm maior probabilidade de
apresentar depressão que outros pacientes na clínica geral. Os pesquisadores
acreditam que esse dado pode ajudar a melhorar o diagnóstico e o tratamento da
depressão pelos médicos de família e muitos outros profisionais de saúde. Os autores
relatam que o que tem sido mais relevante é que a depressão e a ansiedade podem
frequentemente se apresentar apenas através de dor ou sintomas físicos debilitantes.
A falha na identificação e no tratamento desse tipo de sintoma pode significar uma
chance reduzida de recuperação total e cronificação da condição psicopatológica.
A tarefa do diagnóstico de depressão nem sempre é fácil, mesmo com a divulgação
crescente de seus critérios bem estabelecidos.
Sabe-se que os critérios diagnósticos relacionados à depressão envolvem
sintomatologia que podem mascará-la ainda mais, uma vez que se envolvem inúmeras
outras queixas, incluindo as somáticas, que podem parecer pouco relacionado ao
estado depressivo motivador.
No geral, é uma condição clínica diagnóstica por exclusão por ainda não se configurar,
assim como outras condições psicopatológicas, por marcadores biológicos objetivos.
A situação do doente pode ir se agravando diante de inúmeros exames objetivos que
requisitados sem objetivamente se obter uma resposta ao sofrimento real. Uma
verdadeira “maratona” diante de atendimentos e exames da propedêutica armada e
nada de objetivo se identifica e, algumas vezes, induzindo o observador, em algumas
situações, a suspeitar de queixas factícias ou mesmo simulatórias. Tais condições
complicam ainda mais quando o curso das queixas envolve quadros dolorosos.
Del Porto descreve que “sentimentos de tristeza e alegria colorem o fundo afetivo da
vida psíquica normal”, visto que tristeza é resposta humana universal em decorrência
de situações de perda, derrota, desapontamento e outras adversidades. Seu valor
adaptativo foi evolutivamente capaz de, através do retraimento, “poupar energia e
recursos para o futuro”. Porém, tem carácter de sinal de alerta “de que a pessoa está
precisando de companhia e ajuda”.
O mesmo autor descreve que a depressão pode se manifestar como sintoma,
síndrome ou doença. Como sintoma, pode surgir em variados quadros clínicos, tais
como transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo,
doenças clínicas, dentre alguns, e como resposta a situações estressantes, ou a
circunstâncias sociais, familiares e econômicas adversas.
Como síndrome, a depressão inclui alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta
da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos,
incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite).
E como doença, a depressão apresenta-se de várias formas “dependendo do período
histórico, da preferência dos autores (ou seja, do indivíduo que desenvolve a doença) e do ponto de vista adotado”. Encontra-se na literatura como transtorno depressivo
maior, melancolia, distimia, depressão integrante do transtorno bipolar tipos I e II,
depressão como parte da ciclotimia.
Já o transtorno doloroso é uma condição descrita pelo CID-10 como um dos
Transtornos de Somatização (F45.0) em que se caracteriza essencialmente pela
presença de sintomas físicos, múltiplos, recorrentes e variáveis no tempo, persistindo
ao menos por dois anos. A maioria dos pacientes teve longa e complicada história de
contato tanto com a assistência médica primária, quanto especializada durante as
quais muitas investigações negativas, ou cirurgias exploratórias sem resultado podem ter sido realizadas. Os sintomas podem estar referidos a qualquer parte, ou sistema
do corpo. O curso da doença é crônico e flutuante e, frequentemente, se associa a
alteração do comportamento social, interpessoal e familiar. Dentre os demais quadros
descritos na categoria temos o Transtorno Doloroso (F45.4), cujas características são
queixa de dor persistente, intensa e angustiante, não explicável inteiramente por
processo fisiológico ou transtorno físico, ocorrendo em contexto de conflitos
emocionais e problemas psicossociais suficientemente importantes para permitir a
conclusão de que os mesmos sejam a causa essencial do transtorno. Em geral, resulta
em maior atenção e suporte e assistência quer pessoal, quer médica. Quando uma dor
é considerada como psicogênica e ocorre no curso de transtorno depressivo ou de
uma esquizofrenia não deve ser classificada neste tópico.
Tem sido nomeado vulgarmente de depressão mascarada o que seria uma forma de
somatização depressiva em que apesar de se tratar de depressão, seja como síndrome
ou doença, os sintomas vêm mascarados sob as queixas orgânicas. A forma “máscara”
é orgânica, mas o conteúdo, causa, é depressiva.
Sabidamente é mais bem aceito socialmente uma patologia orgânica do que uma
psicopatologia ou problema psíquico e a depressão ainda por muitos – infelizmente -
profissionais de saúde tem sido considerada com menos cuidado que merece.
Frequentemente mascara-se a depressão através de sintomas orgânicos como as
cefaléias difusas, acompanhadas de mal estar geral que normalmente se manifestam
conjuntamente com componente ansioso e fóbico manifesto, como medo de um
tumor cerebral, medo da morte, dentre algumas queixas. Dores difusas, parestesias,
nevralgias faciais, lombalgias, braquialgias. Aqui os sintomas se apresentam associados
à ansiedade, à fadiga, hipersensibilidade aos estímulos ambientais e frequentemente
eles se alternam, variando inclusive sua intensidade durante o dia e as parestesias
agitadas noturnas, algumas formas de anorexia ou hiperfagia periódica. Algumas
síndromes psicossomáticas que por sua característica não reativa e sua evolução fásica
são de fato máscaras depressivas e respondem bem ao tratamento com
antidepressivos e psicoterapia específica para depressão, sendo bastante comum
doenças reumatológicas e queixas difusas em geral.
Além de uma “Máscara Somática”, a depressão pode assumir também uma máscara
Psíquica sendo também a causa real de diversos casos de agressividade, alcoolismo,
toxicomanias. As toxicomanias crônicas, ou episódicas muitas vezes mascaram estado
depressivo subjacente e não raro encontrar-se em alcoolistas em estado de não
intoxicação, onde pode ser mais vulnerável a atos suicida. Quando ocorre em paciente
com quadro de problema orgânico já instalado e pronunciado pode induzir o
profissional a não observar que compartilha diagnóstico psicopatológico depressivo ou
ansioso.
A sintomatologia somática da depressão por vezes muito difícil de diagnosticar e não
raro passam por despercebidas pelo profissional. Se houvesse melhor dedicação ao
encaminhamento à profissional especialista de certo que a demora de anos até que o
tratamento correto seja aplicado em muito ajudaria na prevenção da cronificação, em
ambas condições psicopatológica ou orgânica, auxiliaria sobremaneira prevenindo a
desnecessária iatrogênia de inúmeras submissões a todo tipo de exames, provas
terapêuticas e até cirurgias inadequadas e ineficazes, o que só vem a contribuir para o
agravamento do estado depressivo e no recrudescimento da convicção de estar
padecendo de algum mal incurável.
Assim, o termo depressão mascarada refere-se ao predomínio da sintomatologia física,
inclusive insônia e inapetência, em detrimento do humor depressivo, dificultando o
diagnóstico diferencial.
Por outro lado, existe o risco de diagnosticar vários pacientes clínicos como tendo
depressão mascarada quando não se encontra prontamente uma causa orgânica para
a queixa relatada.
Em estudo epidemiológico Kessler revelou que somente metade dos pacientes que
recebiam psicotrópicos preenchia critérios para transtornos mentais.
Quando a dor for descrita como difusa, profunda, acompanhada de intenso sofrimento
psíquico, cuja localização pode ser múltipla ou variável no decorrer do tempo deve-se
sempre suspeitar de condição dupla, quadro doloroso e psicopatológico e o
encaminhamento ao profissional especializado são mandatórios.
Ainda não esquecer que tanto ansiedade e depressão levam à contratura muscular
importante e em ambas as condições não ocorreria o relaxamento muscular voluntário
levando a compressões importantes nas raízes nervosas que emergem da coluna
vertebral e eliciando quadro doloroso.
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