segunda-feira, 23 de maio de 2011

Como a Acupuntura pode auxiliar quem sofre de Ansiedade?

Ola, ouvi dizer que a acupuntura é muito recomendada no tratamento de ansiedade. Sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada e faço tratamento psiquiátrico e psicoterapia. Posso me beneficiar mais ainda com acupuntura? Neste caso qual a indicacao? Obrigada!


Resposta: O Trantorno de Ansiedade Generalizada (TAG) se refere a um quadro no qual preocupações ou ansiedades excessivas estão presentes. Geralmente tais preocupações não são justificáveis ou então são desproporcionais ao nível de ansiedade experimentada. Para ser classificada como TAG é necessário que os sintomas se façam presentes por pelo menos 6 meses contínuos e que a diferenciação diagnóstica com outros transtornos ansiosos, como a Síndrome do Pânico ou Fobia Social, por exemplo, seja efetuada, descartando outras possibilidades como a ansiedade normal. A principal diferença entre TAG e ansiedade normal, além da existência ou não de um motivo real que justifique a presença dos sintomas ansiosos, é que na ansiedade normal o indivíduo tende a se adaptar à situação causadora de ansiedade e, com o tempo, os sintomas desaparecem com o tempo. No momento do diagnóstico é importante, ainda, que sejam descartadas outras possibilidades como ansiedade decorrente do uso de drogas ou substâncias psicoativas.

No TAG estão presentes os seguintes sintomas: dificuldade em relaxar e experimentação de que se está no limite do nervosismo, cansaço, dificuldade de concentração e de memória, irritabilidade, tensões musculares e prejuízo do sono, seja a dificuldade em adormecer, manter o sono ou efetivamente se sentir repousado depois de dormir. Resumidamente, a condição traz bastante sofrimento para quem a experiencia, prejudicando suas funções sociais e profissionais de modo bastante significativo. Além disso podem estar presentes sintomas físicos como palpitação, ganho ou perda de peso, boca seca, mãos ou pés úmidos, enjôos ou diarréia, aumento da freqüência urinária, sudorese excessiva, dificuldade de engolir ou sensação de um bolo na garganta, assustar-se com facilidade e de forma mais intensa, sintomas depressivos são também bastante comuns.

O tratamento, na Medicina Ocidental, envolve o trabalho psicoterápico somado ao uso de medicações como tranquilizantes benzodiazepínicos ou buspirona, além de antidepressivos. Dentro das modalidades psicoterápicas, a cognitivo-comportamental é a que vem sendo mais estudada e que vem obtendo os melhores resultados. Entretanto, caso o tratamento não seja procurado quanto antes os sintomas aparecerem, a chance de uma remissão completa diminui na mesma medida em que a de uma recaída aumenta. De modo geral, pessoas que sofrem do TAG tendem a apresentar a doença por bastante tempo, com intervalos remissivos curtos que ocorrem esporadicamente.

De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, corpo e mente são apenas dois aspectos funcionais da mesma coisa: é como se houvesse uma porta em que, em um dos lados, estivesse escrito “entrada” e, no outro, “saída”, mas a porta é a mesma. Esta compreensão do ser humano ocorre em função da maneira holística com que a Medicina Chinesa encara os indivíduos. O que diferencia a compreensão da Medicina Chinesa e a Ocidental acerca dos transtornos ansiosos é que, na visão Ocidental, psicoterapia e medicações são suficientes, enquanto na Chinesa é fundamental trabalhar internamente os sistemas de órgãos e vísceras do corpo, além da mente, para o restabelecimento completo e permanente.

Na Medicina Chinesa os órgãos e sistemas do corpo estão associados à emoções. Assim, a alegria é associada ao Coração, enquanto a preocupação é associada ao Baço. A tristeza e o luto são emoções associadas ao Pulmão, medo e fobia aos Rins e a ira é a emoção associada ao Fígado. Dizer que uma emoção é associada a um órgão quer dizer que esta é a emoção à qual o órgão em questão é vulnerável; em outras palavras, a alegria excessiva (ou mania, utilizando um termo da Psicologia) fere o Coração, a preocupação intensa fere o Baço, a tristeza e o luto desmedidos ferem o Pulmão, os medos e as fobias ferem os Rins e a ira fere o Fígado. De acordo com o Huang Di Nei Jing, primeira publicação da Medicina Chines que data de mais de dois mil anos atrás, sempre que as emoções se estagnem por tempo demais sem serem trabalhadas irão agredir os órgãos correspondentes, sendo classificadas assim como fatores internos de adoecimento.

Quando falamos em emoções dentro da Medicina Tradicional Chinesa, um órgão desempenha papel fundamental no manejo dos sentimentos: o Fígado, órgão responsável pelo livre fluxo de energia (Qi) e Sangue pelo corpo, também é responsável pelo livre fluxo do “Qi emocional” pelas emoções. Ou seja, de acordo com este ponto de vista, as emoções em si não são o problema, e sim passar tempo demais fixado a uma delas é que se torna fonte de doenças. A alegria é benéfica à vida, assim como a preocupação, que norteia nossas escolhas, a tristeza que nos ensina sobre os erros e arrependimentos, o medo que nos avisa dos perigos e a agressividade ou ira que nos impulsiona a alcançar novos objetivos e concretizar conquistas. Sentir tais emoções não fere os órgaõs: fixar-se a uma delas é que será prejudicial. Sintomas presentes no TAG que se referem ao Fígado é a sensação de bolo ou corpo estranho na garganta e a irritabilidade.

Uma das Escolas de Medicina Chinesa mais importantes da China, a Escola de Shanghai, é categórica em afirmar que todos os transtornos emocionais irão agredir o Fígado, devido a esta função central que o Fígado desempenha de manter o livre fluxo de Qi e Sangue pelo corpo. Desta forma, uma desarmonia no Fígado irá, mais cedo ou mais tarde, agredir os outros órgãos e vísceras do corpo. Mas outro órgão bastante associado à qualidade da vida mental e emocional é o Coração. Na Medicina Chinesa, o psiquismo é chamado de Shen (tradução: Mente), e funciona sob responsabilidade do Coração. Uma afirmação milenar diz que “O Coração governa Shen e Shen faz morada no Sangue”. Traçando um paralelo com a Medicina Ocidental, dizer que a Mente reside no Sangue é a mesma coisa que dizer que “os neurotransmissores que determinam o estado de saúde ou doença mental residem no sangue”, e é por isso que o Coração também é um órgão de importância fundamental no manejo dos transtornos psíquicos dentro da Medicina Chinesa. Sintomas como insônia, inquietação mental, memória e atenção pobre e palpitação são, na Medicina Chinesa, representativos de desordens envolvendo o Coração.

No caso da Ansiedade, outro órgão pode estar lesado: o Baço, que é ferido pela preocupação excessiva, atividade mental bastante comum e até mesmo dominante nos casos de TAG. Sintomas como perda ou ganho de peso, cansaço excessivo e falta de apetite são sintomas do TAG relacionados a desarmonias do Baço.

O primeiro passo no início do tratamento com a Medicina Tradicional Chinesa vai ser o estabelecimento de um diagnóstico (diferente do Ocidental), que vai identificar os principais órgãos e sistemas do corpo envolvidos e suas principais condições: se estão em excesso ou deficientes. O tratamento irá se destinar a trazer de volta a harmonia dos sistemas do corpo através de técnicas de tonificação no caso de deficiência e de sedação no caso de excessos. Para tal, além da Acupuntura Sistêmica, outras técnicas poderão ser utilizadas tais como a Fitoterapia Chinesa e o uso de fórmulas compostas que irão fornecer substratos ao organismo para auxiliá-lo em seu processo de recuperação, além de massagens e o uso de Moxibustão caso haja necessidade.

Além de trabalhar o corpo por meio das técnicas já citadas, existe uma infinidade de outras técnicas complementares ao tratamento no manejo dos problemas emocionais. Técnicas de relaxamento, visualização criativa e controle racional dos sentimentos podem ser utilizadas, além de exercícios físicos com importante ação sobre o aspecto mental, como Taijiquan, Wu Qin Xi e Qi Qong, que trabalham a mente e o corpo ao mesmo tempo. Além disso se farão necessários ajustes nos hábitos alimentares e prescrições de acordo com os preceitos da Cromoterapia Chinesa poderão ser feitas. Todas as técnicas citadas têm como objetivo harmonizar o organismo, trazendo de volta o equilíbrio perdido, mas vale ressaltar que nenhuma delas inviabiliza o tratamento com a Medicina Ocidental, muito pelo contrário: os tratamentos devem se somar, e não serem mutuamente excludentes. O tratamento, quando aderido, é bastante eficiente na remissão da inquietação mental e também de sintomas como palpitação, desconfortos digestivos, cansaço e, principalmente, nas dificuldades de sono. No aspecto específico da insônia, a Acupuntura costuma apresentar ótimos resultados já na primeira sessão de tratamento.

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